Harvard desafia governo Trump e rejeita exigências ligadas a cortes de financiamento

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Universidade Harvard em Cambridge, Massachusetts, no ano passado. Fotografia: Steven Senne/AP

A Universidade Harvard anunciou nesta segunda-feira (14) que não atenderá às exigências do governo Trump, que ameaça cortar cerca de US$ 9 bilhões em financiamento federal como parte de uma campanha para reprimir o que classifica como antissemitismo e violações de direitos civis em instituições acadêmicas de elite.

Em mensagem enviada à comunidade universitária, o reitor Alan Garber afirmou que Harvard “não abrirá mão de sua independência nem de seus direitos constitucionais” diante da pressão do governo. A declaração responde diretamente à carta enviada pela força-tarefa antissemitismo da atual administração, que acusa a universidade de descumprir as condições legais que justificam o investimento público.

Entre as exigências do governo estão o encerramento dos programas de diversidade, equidade e inclusão; a cooperação obrigatória com autoridades federais de imigração; a reformulação dos critérios de admissão para excluir estudantes internacionais considerados simpatizantes de terrorismo ou antissemitismo; e a obrigação de denunciar estudantes que descumpram regras internas. O governo também pressiona pela redução da influência de docentes e administradores que se envolvem em ativismo político dentro da universidade.

Garber afirmou que as demandas representam uma tentativa direta de controle governamental sobre o ambiente acadêmico e considerou o movimento uma “manobra política”. “Embora algumas exigências mencionem o combate ao antissemitismo, a maioria representa uma tentativa clara de interferência nas condições intelectuais da universidade”, escreveu.

A postura firme de Harvard contrasta com a da Universidade Columbia, que, diante da ameaça de perder US$ 400 milhões em verbas federais, atendeu amplamente às exigências do governo.

O confronto ocorre em meio a uma série de decisões judiciais e medidas do governo federal contra estudantes e professores envolvidos em manifestações pró-Palestina. Um dos casos mais emblemáticos envolve Mahmoud Khalil, estudante palestino de pós-graduação na Universidade de Columbia, que foi autorizado a ser deportado mesmo possuindo residência permanente legal nos EUA. O governo argumenta que sua permanência representa risco à política externa americana. A defesa do estudante recorreu da decisão.

Especialistas e professores de renome alertam para os riscos dessas medidas à autonomia universitária. “Encerrar toda a ciência parece uma forma contraproducente de lidar com os problemas específicos do antissemitismo”, afirmou o professor Steven Pinker, de Harvard, ao Boston Globe.

Com um fundo patrimonial de mais de US$ 52 bilhões, Harvard tem condições financeiras para resistir aos cortes, mas a decisão de enfrentar diretamente o governo simboliza um posicionamento claro em defesa da autonomia acadêmica e dos princípios democráticos.

Fonte: redação

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